Retrospectiva 2011: Os dez melhores filmes do ano
Foi um ano inferior às
expectativas. O ano não teve grandes filmes. O grande filme de 2011 é, na
verdade, de 2010. No entanto, na média, foi um ano superior às expectativas.
Foram muitos os filmes ótimos.
É possível dizer que foi um ano
minimalista. Há uma comédia indie; uma comédia de estúdio com alma indie; uma
fita de horror psicológico do mestre do melodrama; um filme sobre a gênese e o
êxodo de uma relação amorosa; uma fita política travestida de filme de super
herói; um filme político de fato; uma fita que homenageia uma forma de
entretenimento esquecida; um filme que não nos deixa esquecer o passado recente;
um filme sobre a busca obsessiva pela perfeição e outro sobre a força da família
em circunstâncias adversas. Confira :
10 – Namorados para sempre, de Derek
Cianfrance (Blue valentine, EUA 2010)
Um filme pungente que captura
momentos dicotômicos de uma relação amorosa. Namorados para sempre é um
retrato borrado dos sonhos uma vez compartilhados. Abusando do naturalismo e
confiando em seu par de atores, Ciafrance realiza um triste soneto sobre o
escoamento de um sentimento sufocado por uma vida conjugal atordoante e expõe a
fragilidade das promessas apaixonadas.
9- Ganhar ou ganhar, de Thomas McCarthy (Win
Win, EUA 2011)
Se existe um underdog nesse
Top 10, é Ganhar ou ganhar. A fita independente, sucesso de
crítica no festival de Sundance, nem sequer foi lançada nos cinemas brasileiros.
Mas a história de superação tão cara a esse segmento do cinema americano chegou
ao DVD. A fita encanta quem se predispuser a assistir a jornada de um advogado
com ataques de pânico e um garoto introspectivo fera em luta Greco-romana que
tornam a vida um do outro um pouco mais palatável.
O filme de Thomas McCarthy,
mesmo diretor dos ótimos O visitante (2008) e O agente da estação
(2003), é um conto simples, mas cheio de sentimento e transbordante em
inteligência.
8 – O palhaço, de Selton Mello (Brasil
2011)
Emoção e riso dão rima nesse
trabalho sensível de Selton Mello. O palhaço é um filme em busca da
própria vocação cinematográfica. É um pouco terapia para seu autor; é cinema
homenagem a uma forma de entretenimento esquecida; é reflexão sobre os
desencontros de certas aspirações e é uma demonstração algo felliniana de que
reside na arte, à expiação das angústias humanas.
7- Margin call – o dia antes do fim, de J.C.
Chandor (Margin call, EUA 2011)
2011 viu nascer um novo
subgênero, o do thriller financeiro. Mas os méritos dessa fantástica estréia no
cinema de J.C. Chandor não se resumem a isso. São desse filme os diálogos mais
ácidos e afiados do ano. Ágil, sombrio, engraçado, dinâmico e profundamente
sutil nas abordagens que faz primeiro das humanidades e depois do sistema
financeiro viciante e viciado de nossos tempos.
6 – A pele que habito, de Pedro Almodóvar (El
piel que habito, ESP 2011)
Um cineasta de primeira classe
precisa ser louvado quando sai de sua zona de conforto. Agora, quando esse
cineasta sai de sua zona de conforto e tece uma obra prima ainda mais
inquietante e prolixa em suas estranhezas de fundo psicanalíticas, é preciso
gritar ‘bravo!’. Almodóvar se reinventou em 2011 e estabeleceu um novo patamar
em sua filmografia com A pele que habito. Não há outro que tenha fundido
melodrama e terror de maneira tão orgânica e poética em 2011 ou qualquer outro
ano.
5 – X-men: primeira classe, de Matthew Vaughn
(X-men: first class, EUA 2011)
Nenhum blockbuster foi tão
altivo em suas proposições e tão inteligente no desenvolvimento das ideias que
as gravitam como esse filme que revigora a saga mutante no cinema. Um filme de
notório lastro político que apresenta personagens com dilemas morais e pessoais
que influenciam na forma como percebem o mundo. A saga mutante nunca teve suas
potencialidades exploradas em nível tão satisfatório como na fita de Matthew
Vaughn que ainda brinda seu público com um entretenimento de primeiro
nível.
4- Amor a toda prova, de John Requa e Glenn
Fiquarra (Crazy stupid Love, EUA 2011)
Relações amorosas são tentativa e erro? Pode o amor superar
tudo? Como lidar com frustrações pessoais em um contexto de um relacionamento
amoroso? São temas perpassados com maturidade e leveza em Amor a toda
prova, um dos filmes mais inteligentes, charmosos e divertidos da temporada.
Sem se incumbir do final feliz hollywoodiano, John Requa e Glenn Fiquarra
apresentam um fecho, não um final para seu filme. Essa solução tão liberal, em
um filme com fachada ainda mais liberal, estabelece que comédias românticas não
precisam necessariamente ser apoteóticas e fabulares. Se tiver um elenco com
Ryan Gosling, Steve Carrel, Julianne Moore, Emma Stone e Marisa Tomei
ajuda.
3- Tudo pelo poder, de George Clooney (The ides
of march, EUA 2011)
George Clooney demonstra cada vez mais o artista completo
que é. Tudo pelo poder é um filme magnificamente dirigido por um cineasta
que, mais do que domínio da técnica, apresenta total conhecimento da matéria
prima do filme: política. Não é um Clooney desencantado que se testemunha em
Tudo pelo poder, é um artista em plena consciência autoral. Tudo pelo
poder é um drama profundo, frequentemente sombrio, dotado de um pessimismo
incomodado e inquieto com as verdades que o gravitam. Como se não bastasse o
brilhantismo do texto e da realização, o elenco é outro show à parte.
2- Um novo despertar, de Jodie Foster (The
beaver, EUA 2011)
A melhor atuação da carreira de Mel Gibson? Sim, mas Um
novo despertar é muito mais do que isso. É um retrato devastador e, ainda
assim incrivelmente belo, dos alcances da depressão em um ser humano e em sua
família. Foster confia em Gibson à alma de seu filme. E a escolha é acertada.
Mas a diretora tem outros trunfos na manga. É no paralelo que estabelece entre
pai e filho que Um novo despertar encontra abrigo dentro de cada um de
nós. É um filme sobre o potencial enlouquecedor de nossas famílias, espelhos e
expectativas. Mas também sobre o viés regenerador que só o seio familiar pode
ostentar.
1- Cisne negro, de Darren Aronofsky (Black
swan, EUA 2010)
Se existe apoteose cinematográfica, Darren Aronofsky a
tangenciou com Cisne negro. Registro grandiloquente e visualmente
delirante de uma menina frágil sucumbindo à própria obsessão. Com referências
claras a um jovem Roman Polanski, Aronofsky constrói o filme mais reverberante
do ano em suas bifurcações psicanalíticas e digressões narrativas. Um tour de
force de uma atriz instigada até seus limites como há muito não se via no cinema
e uma ostentação técnica que resulta em uma obra hermética e popular. Com
direito a toda a estranheza que os dois adjetivos, quando juntos, conferem
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