O que melhor reflete a nossa realidade? O que melhor define aquilo que somos e pelo que passamos? Toda obra de arte, independente da plataforma que lance mão é intrisicamente reflexo disso. Reflexo de nossas inquietações mais profundas. E como todo final de ano é época de listas e o final de 2009 é um ano especial, demarca o fim da primeira década do novo século, vamos fazer uma série delas.
A primeira é voltada para cinema. Quais são os filmes que demarcam as inquietações desses primeiros dez anos? Quando saímos de 1999 o discurso de todos é que estávamos adentrando um período de superações. Que depois da virada iríamos passar por uma nova era. Ledo engado.
As nossas questões ainda são as mesmas, mas agora estão sob nova ótica. Embutidas em uma crosta repleta de individualismo e superficialidade. As bandeiras, agora, quase inexistentes são baseadas pela nossa própria superação e passamos do politicismo exacerbado para recair nas superações do estético.
E escolhemos 30 filmes que discutiram os principais anseios desse período. Leia, julgue e comente!
30
EDUKATORSHans Weingartner (2003)
29
BASTARDOS INGLÓRIOS
Quentin Tarantino (2009)
Quinze anos depois do sucesso inovador de Pulp Fiction no Festival de Cannes, o diretor Quentin Tarantino voltou ao balneário francês para lançar sua versão bem particular do exército americano formado por judeus comandado por Aldo Raine (Brad Pitt), que cerca e escalpa soldados da SS, reescrevendo a história do holocausto da maneira catártica. O filme expurga um dos temas mais caros e ainda delicados do cinema, sob a perspectiva de justiça feita pelas vítimas da maneira brutal correspondente ao genocídio praticado pelos alemães. A obra prima do carinha da locadora.
28
NO PAIN, NO GAIN
Samuel Turcotte (2003)
Mike Zorillo é um fisiculturista em uma pequena cidade de Ohio. Um homem incomum, que combina um corpo super musculoso com um QI digno de um gênio. Em busca do sonho de mostrar ao mundo seuas ideias revolucionárias sobre desenvolvimento de músculos perfeitos, Mike viaja para a mexa do fisiculturismo, Los Angeles, e percebe ue a única maneira de atingir seus objetivos é vencer a competição de maior prestígio dessa modalidade, a Mr. West Coast. O maios obstáculo no caminho do atleta está num bando de loucos por academias de ginástica que tomam esteróides para aumentar a massa muscular. Por causa de suas pesquisas científicas, Mike passa a ser perseguido pla maior companhia de nutrição, mas recebe ajuda de uma bela lutadora de Kickboxing. Juntos eles descobrem o que falta em suas vidas e destroem o clichê dos anos 90 de que quem tem músculos não pensa.
27
FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO
Michael Moore (2004)
A já memorável cena do ex-presidente norte-americano George W. Bush apático, numa escola primária dos EUA, no momento em que soube do primeiro ataque às torres gêmeas do World Trade Center, é uma das cenas que justificam este documentário do cineasta gonzo Michael Moore. O filme ousou criticar abertamente as fragilidades do governo republicano quando ainda até a imprensa tinha reservas a respeito do modelo de retaliação às forças iraquianas responsáveis pelo ataque que vitimou milhares de pessoas, priorizando as relações perigosas entre George Bush pai e os cartéis de petróleo da família de Osama Bin Ladin. Irônico, panfletário e bem editado, o filme rendeu a Palma de Ouro de 2004, com um discurso inflamado de Moore desancando os rumos da civilização mais influente do Ocidente.
26
O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN
Ang Lee (2005)
25
BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS
Michel Gondry (2004)
O segundo trabalho do roteirista Charlie Kauffman com o diretor Michel Gondry (fizeram antes “Natureza Quase Humana”) é apaixonante, tem ótimo elenco e idéia extremamente original, que rendeu o Oscar e BAFTA de Melhor Roteiro e mais 33 prêmios pelo mundo afora. Garota impulsiva (Kate Winslet) apaga literalmente o namorado (Jim Carrey) da memória em clínica que faz tal cirurgia. Ele resolve dar o troco, mas desiste no meio da “operação” e precisa lutar dentro do próprio cérebro para manter suas lembranças. Kate e Carrey formaram um casal improvável, mas demonstraram química impressionante em cena. Ela foi indicada ao Oscar de Atriz e o ator foi injustamente esquecido pela premiação da Academia. Uma pérola cinematográfica do século XXI.
24
A TRILOGIA BOURNE
Doug Liman e Paul Greengrass (2002, 2004 e 2007)
Matt Damon corre, corre, corre, atira, pula, salta e mantém no rosto a principal estima daqueles que sabem o que estão fazendo: a seriedade e a cara impavida. A trilogia Bourne — como ficou conhecido os filmes A Identidade Bourne, A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne — que começa nas mãos de Doug Liman (no primeiro filme) e passa à direção de Paul Greengrass em seguida. No primeiro, o centro é a perda de memória. Nos dois outros, aos poucos, desvia-se para a questão do poder: quem manda? quem ordena? O que fazer? O que no fazer? E estamos, sempre, às voltas com uma CIA em que, sem inimigos reais a espionar, os agentes, chefes de agentes, chefes dos chefes etc. comem uns aos outros. Estamos, ainda, num mundo de escutas, onde paranóia e golpes baixos dão o tom, sem ordenação hierárquica (o crime vem muito do alto). Paranóia por paranóia a verdade é que tudo isso existe de verdade e nos permeia o cotidiano com câmeras nos banheiros do trabalho.
23
BATMAN — O CAVALEIRO DAS TREVAS
Christopher Nolan (2008)
Batman Begins marcou o início da nova franquia do homem-morcego de forma positiva, indo numa direção completamente oposta aos longas anteriores do personagem, inserindo drama, tornando os personagens próximos da realidade e levando ao público o melhor ator a interpretar o herói: Christian Bale. O Cavaleiro das Trevas expandiu as qualidades de seu antecessor, mesclando drama policial, conflitos psicológicos (influência de “Fogo contra Fogo”, de Michael Mann), ótimas sequências de ação, excelente elenco e uma atuação antológica do falecido Heath Ledger na pele do Coringa, fazendo o Coringa de Jack Nicholson, tão comemorado na época de Batman, de Tim Burton, parecer brincadeira de criança. Ledger venceu praticamente todos os prêmios, incluindo Oscar e Globo de Ouro. Elogiado pela crítica, levanta inúmeras questões sobre segurança e privacidade, critica com inteligência o governo americano e fez mega sucesso de bilheteria, ultrapassando a marca de US$ 1 bilhão ao redor do mundo.
22
LAVOURA ARCAICA
Luís Fernando Carvalho (2001)
O filme de Luiz Fernando Carvalho vem de uma safra brasileira de quando o exercício do cinema autoral ainda não tinha entrado em orgia com o cinemão sem propósito – são contemporâneos a ele Abril Despedaçado (Walter Salles) e Amarelo Manga ( Claudio Assis). Adaptação de um romance de Raduan Nassar pouco conhecido antes de ser levado às telas, é uma produção brasileira distante de fórmulas conhecidas, denso, um tanto incômodo e esteticamente bem elaborado.
21
SWIMMING POOL
François Ozon (2003)
Sarah Morton é uma veterana, bem-sucedida e mal-humorada escritora inglesa de livros de mistério. À beira de uma crise criativa e de um colapso nervoso, ela é enviada para a casa de seu editor, no interior da França. E tudo começa muito bem para Sarah: os novos ares, o silêncio e a paisagem parece que vão trazer-lhe de novo as idéias. Isso até que aparece Julie, filha do editor. Com Julie vêm o barulho, a falta de educação e a inquietude. A inquietude é o mais importante. Julie representa, no estado mais agressivo que Sarah pode conceber, a juventude, a beleza e o desregramento dos sentidos. Para uma mulher madura, isso é inquietante: a cada noite, Julie aparece com um companheiro diferente. Sarah ressente-se disso, não sabemos exatamente por quê: ou porque é reprimida mesmo, ou porque seu tempo de ser desejada já passou –mas não o de desejar. O certo é que François Ozon foi muito feliz ao escalar duas atrizes de características opostas para os papéis centrais. Charlotte Rampling, que faz Sarah, não consegue deixar de ser distinta. Sabe se exprimir com economia de meios. Ludivine Sagnier, ao contrário, é aquilo que constumamos observar como “beleza vulgar”.
20
O JARDINEIRO FIEL
Fernando Meirelles (2005)
A quebra de patentes de medicamentos pelo governo britânico é vista de maneira bem lúcida pelo diretor Fernando Meirelles. A primeira produção internacional do brasileiro tem Rachel Weisz e Ralph Fiennes no elenco para mostrar a história de um funcionário de saúde casado com uma ativista e a vida deles depois que ela morre no Quênia e ele passa a lutar pelas causas com as quais era cético para desvendar a morte da mulher.
19
A VIAGEM DE CHIHIRO
Hayao Miyazaki (2001)
18
21 GRAMAS
Alejandro Gonzales Inarritu (2003)
“21 gramas” é o peso de um colibri, de um maço de cigarro e, segundo diz um dos personagens do filme, o peso que um corpo perde na hora da morte. O filme nos narra a história de três destinos que se cruzam. Paul é um professor de matemática cardíaco e espera a chamada telefônica que pode lhe salvar a vida. Christine (de Naomi Watts) é uma mulher que se tornou quieta dentro de uma estrutura familiar pequeno burguesa com duas filhas e um marido. E os carros que todos dirigiam não vai parar em um sinal, pelo contrário. O filme é totalmente construído nesse entremeio da colisão e de vidas que são suspensas e que se interceptam subtamente. E aqui, acolá o diretor vai consturando presente, passado e futuro dos persongens sem que haja cinto de segurança para evitar o choque os próprios espectadores. Sendo então radical, mas fugindo, completamente, da pecha experimentalista que circunda filmes como esse.
17
O CÉU DE SUELY
Karim Aïnouz (2007)
Pela primeira vez vê-se em projeção nacional um filme que fala do Nordeste e que já não põe na tela os antigos Vaqueiros e a caatinga plenamente desabitada como principal marca identitária. Aqui o Nordeste não é mais o imaginário de Vidas Secas. No lugar dos vaqueiros há caras de motocicletas e ecos de uma sociedade de consumo. E no enredo, Hermila volta de São Paulo com um filho no colo para o interior do Ceará em que aguarda o reaparecimento do pai de seu filho. Ele, como de costume nas histórias em que o sexo masculino é sempre o que ocasiona vilania, não volta. Para voltar ao sonho dourado da capital paulista Hermila rifa o corpo em troca de uma possível viagem ao paraíso. E aqui a defesa para a miséria já não é mais a força política e a consciência de classe como no passado. Agora o sujeito cansado de lutar contra o stablishment lança mão de um certo jogo de cintura meio amoral e que beira o cinismo. São os tempos atuais.
16
LEMON TREE
Eran Rikklis (2008)
O destino de uma palestina dona de uma pequena plantação de limões e do primeiro ministro israelenses se encontra nos limites que dividem suas casas. O terreno ocupado pelo pomar tornaria a segurança do local frágil, e Salma vai lutar contra a política de Estado pelo seu direito de preservar o quintal sem a invasão. O filme aborda os conflitos do Oriente Médio sob o olhar de quem vai ficar fora do muro construído por Israel em caso de decisão separatista. Contundente e atual, o filme é o mais bem sucedido no gênero a expor as duas partes com seus argumentos e revelando por outro viés, a fragilidade dos povos. A questão de gênero da mulher como indivíduo diminuído também é abordada com bastante delicadeza.
15
A PROFESSORA DE PIANO
Michael Haneke (2001)
A parceria dos talentos de Isabelle Huppert e Claude Chabrol originou um típico filme da safra do diretor: um olhar cheio de tensão psicológica sobre as relações humanas. Um bom exemplo de thriller francês longe do estereótipo cabeçudo e ainda bastante contemporâneo. Aqui, as novas estruturas familiares – no caso, alterada pela chegada de uma suposta filha fora do casamento, ambienta sentimentos mais obscuros donde só caberia a normalidade de uma classe burguesa.
14
AS INVASÕES BÁRBARAS
Denys Arcand (2003)
Continuação de O declínio do império americano (1986), As invasões bárbaras pode tranqüilamente ser visto de maneira distinta. O filme mostra os momentos finais da vida de Rémy, acadêmico que está com câncer, e continua levando sua vida de maneira surpreendentemente bem humorada – ou seria apenas um sintoma da maneira que um certo perfil de intelectuais lida com o revisionismo? A relação com o filho Sebastien, com a ex-mulher e a própria história de seus amigos mais chegados recebem como pano de fundo a dependência química, eutanásia, meia idade e como se reestruturaram as novas relações neste fim de século.
13
A TEIA DE CHOCOLATE
Claude Chabrol (2000)
“É preciso salvar as aparências”, diz Mika aos diretores de sua fábrica de chocolate. Nessa altura, “A Teia de Chocolate” está começando, mas a frase é uma senha do que virá a seguir. Estamos na Suíça, terra fak por por excelência. E parece que a vida dos personagens desse filme segue bem o ritmo local, onde as coisas parecem todas se encaixar. Mika é casada com o famoso pianista André Polonski e tem como enteado o jovem Guillaume. Existe no filme uma outra família feliz, ou quase isso, composta por Jeanne Pollet, uma jovem pianista, e sua mãe Brigitte, diretora de um instituto de medicina legal. Numa terra de aparências, a fofoca corre solta e, claro, em dado momento uma amiga de Brigitte faz a revelação incômoda: quando Jeanne nasceu, houve uma momentânea troca de bebês no hospital. Tudo se desfez, mas agora, para Jeanne, resta a dúvida: seria ela filha de André? E seria Guillaume filho de Brigitte? Qual a natureza desse mistério, não ficaremos sabendo. Também não saberemos ao certo qual a natureza do mal que cerca as pessoas. O mal é tão inexplicável quanto a própria existência: ele existe simplesmente. Congratulações a Claude Chabrol, portanto, pois são poucos os momentos de cinema tão eternos como o final de A Teia de Chocolate, quando após a inevitável conclusão Isabelle Huppert, aos prantos, se joga num sofá enquanto um impassível Jacques Dutronc toca ao piano.
12
O PÂNTANO
Lucrecia Martel (2003)
Lucrecia Martel é provavelmente o nome mais interessante da nova cena argentina. Seu segundo longa, “La Niña Santa, serve como tira-teima, não deixa dúvidas a respeito do seu talento. Mas logo na estréia em longa-metragem, com O Pântano, Martel exibia um cuidado e uma sagacidade incomuns. A narrativa acompanha duas trajetórias que se cruzam: de um lado está Mecha (Graciela Borges) a matriarca de uma família a beira do pleno desajuste e que vive num chácara rodeada por uma enorme penca de filhos e um marido entendiante e plenamente entediado. Em outro polo está Tali, a prima de Mecha que cria seus dois filhos na cidade e com boa dose de juízo na cabeça. A partir do encontro das duas na chácara de Mecha se desenrolam uma série de comentários sobre aparição da Virgem Imaculada, corpos que se tocam quase sem querer, orações sussurradas, um garoto com feições de anjo, uma piscina completamente suja e carinhos dotados de uma suposta inocência. Assim Martel nos conta a natureza da oposição entre fé e desejo. Aqui, um nasce do outro e não vive sem seu duplo. Um maniqueísmo que se alimenta de si mesmo.
11
TERRA PROMETIDA
Amos Gitai (2005)
O que melhor reflete a nossa realidade? O que melhor define aquilo que somos e pelo que passamos? Toda obra de arte, independente da plataforma que lance mão é intrisicamente reflexo disso. Reflexo de nossas inquietações mais profundas. E como todo final de ano é época de listas e o final de 2009 é um ano especial, demarca o fim da primeira década do novo século, vamos fazer uma série delas. A primeira é voltada para cinema. Quais são os filmes que demarcam as inquietações desses primeiros dez anos? Quando saímos de 1999 o discurso de todos é que estávamos adentrando um período de superações. Que depois da virada iríamos passar por uma nova era. Ledo engado.
As nossas questões ainda são as mesmas, mas agora estão sob nova ótica. Embutidas em uma crosta repleta de individualismo e superficialidade. As bandeiras, agora, quase inexistentes são baseadas pela nossa própria superação e passamos do politicismo exacerbado para recair nas superações do estético.
E escolhemos 30 filmes que discutiram os principais anseios desse período. Leia, julgue e comente!
A primeira é voltada para cinema. Quais são os filmes que demarcam as inquietações desses primeiros dez anos? Quando saímos de 1999 o discurso de todos é que estávamos adentrando um período de superações. Que depois da virada iríamos passar por uma nova era. Ledo engado.
As nossas questões ainda são as mesmas, mas agora estão sob nova ótica. Embutidas em uma crosta repleta de individualismo e superficialidade. As bandeiras, agora, quase inexistentes são baseadas pela nossa própria superação e passamos do politicismo exacerbado para recair nas superações do estético.
E escolhemos 30 filmes que discutiram os principais anseios desse período. Leia, julgue e comente!
30
EDUKATORSHans Weingartner (2003)
29
BASTARDOS INGLÓRIOS
Quentin Tarantino (2009)
Quinze anos depois do sucesso inovador de Pulp Fiction no Festival de Cannes, o diretor Quentin Tarantino voltou ao balneário francês para lançar sua versão bem particular do exército americano formado por judeus comandado por Aldo Raine (Brad Pitt), que cerca e escalpa soldados da SS, reescrevendo a história do holocausto da maneira catártica. O filme expurga um dos temas mais caros e ainda delicados do cinema, sob a perspectiva de justiça feita pelas vítimas da maneira brutal correspondente ao genocídio praticado pelos alemães. A obra prima do carinha da locadora.
28
NO PAIN, NO GAIN
Samuel Turcotte (2003)
Mike Zorillo é um fisiculturista em uma pequena cidade de Ohio. Um homem incomum, que combina um corpo super musculoso com um QI digno de um gênio. Em busca do sonho de mostrar ao mundo seuas ideias revolucionárias sobre desenvolvimento de músculos perfeitos, Mike viaja para a mexa do fisiculturismo, Los Angeles, e percebe ue a única maneira de atingir seus objetivos é vencer a competição de maior prestígio dessa modalidade, a Mr. West Coast. O maios obstáculo no caminho do atleta está num bando de loucos por academias de ginástica que tomam esteróides para aumentar a massa muscular. Por causa de suas pesquisas científicas, Mike passa a ser perseguido pla maior companhia de nutrição, mas recebe ajuda de uma bela lutadora de Kickboxing. Juntos eles descobrem o que falta em suas vidas e destroem o clichê dos anos 90 de que quem tem músculos não pensa.
27
FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO
Michael Moore (2004)
A já memorável cena do ex-presidente norte-americano George W. Bush apático, numa escola primária dos EUA, no momento em que soube do primeiro ataque às torres gêmeas do World Trade Center, é uma das cenas que justificam este documentário do cineasta gonzo Michael Moore. O filme ousou criticar abertamente as fragilidades do governo republicano quando ainda até a imprensa tinha reservas a respeito do modelo de retaliação às forças iraquianas responsáveis pelo ataque que vitimou milhares de pessoas, priorizando as relações perigosas entre George Bush pai e os cartéis de petróleo da família de Osama Bin Ladin. Irônico, panfletário e bem editado, o filme rendeu a Palma de Ouro de 2004, com um discurso inflamado de Moore desancando os rumos da civilização mais influente do Ocidente.
26
O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN
Ang Lee (2005)
25
BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS
Michel Gondry (2004)
O segundo trabalho do roteirista Charlie Kauffman com o diretor Michel Gondry (fizeram antes “Natureza Quase Humana”) é apaixonante, tem ótimo elenco e idéia extremamente original, que rendeu o Oscar e BAFTA de Melhor Roteiro e mais 33 prêmios pelo mundo afora. Garota impulsiva (Kate Winslet) apaga literalmente o namorado (Jim Carrey) da memória em clínica que faz tal cirurgia. Ele resolve dar o troco, mas desiste no meio da “operação” e precisa lutar dentro do próprio cérebro para manter suas lembranças. Kate e Carrey formaram um casal improvável, mas demonstraram química impressionante em cena. Ela foi indicada ao Oscar de Atriz e o ator foi injustamente esquecido pela premiação da Academia. Uma pérola cinematográfica do século XXI.
24
A TRILOGIA BOURNE
Doug Liman e Paul Greengrass (2002, 2004 e 2007)
Matt Damon corre, corre, corre, atira, pula, salta e mantém no rosto a principal estima daqueles que sabem o que estão fazendo: a seriedade e a cara impavida. A trilogia Bourne — como ficou conhecido os filmes A Identidade Bourne, A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne — que começa nas mãos de Doug Liman (no primeiro filme) e passa à direção de Paul Greengrass em seguida. No primeiro, o centro é a perda de memória. Nos dois outros, aos poucos, desvia-se para a questão do poder: quem manda? quem ordena? O que fazer? O que no fazer? E estamos, sempre, às voltas com uma CIA em que, sem inimigos reais a espionar, os agentes, chefes de agentes, chefes dos chefes etc. comem uns aos outros. Estamos, ainda, num mundo de escutas, onde paranóia e golpes baixos dão o tom, sem ordenação hierárquica (o crime vem muito do alto). Paranóia por paranóia a verdade é que tudo isso existe de verdade e nos permeia o cotidiano com câmeras nos banheiros do trabalho.
23
BATMAN — O CAVALEIRO DAS TREVAS
Christopher Nolan (2008)
Batman Begins marcou o início da nova franquia do homem-morcego de forma positiva, indo numa direção completamente oposta aos longas anteriores do personagem, inserindo drama, tornando os personagens próximos da realidade e levando ao público o melhor ator a interpretar o herói: Christian Bale. O Cavaleiro das Trevas expandiu as qualidades de seu antecessor, mesclando drama policial, conflitos psicológicos (influência de “Fogo contra Fogo”, de Michael Mann), ótimas sequências de ação, excelente elenco e uma atuação antológica do falecido Heath Ledger na pele do Coringa, fazendo o Coringa de Jack Nicholson, tão comemorado na época de Batman, de Tim Burton, parecer brincadeira de criança. Ledger venceu praticamente todos os prêmios, incluindo Oscar e Globo de Ouro. Elogiado pela crítica, levanta inúmeras questões sobre segurança e privacidade, critica com inteligência o governo americano e fez mega sucesso de bilheteria, ultrapassando a marca de US$ 1 bilhão ao redor do mundo.
22
LAVOURA ARCAICA
Luís Fernando Carvalho (2001)
O filme de Luiz Fernando Carvalho vem de uma safra brasileira de quando o exercício do cinema autoral ainda não tinha entrado em orgia com o cinemão sem propósito – são contemporâneos a ele Abril Despedaçado (Walter Salles) e Amarelo Manga ( Claudio Assis). Adaptação de um romance de Raduan Nassar pouco conhecido antes de ser levado às telas, é uma produção brasileira distante de fórmulas conhecidas, denso, um tanto incômodo e esteticamente bem elaborado.
21
SWIMMING POOL
François Ozon (2003)
Sarah Morton é uma veterana, bem-sucedida e mal-humorada escritora inglesa de livros de mistério. À beira de uma crise criativa e de um colapso nervoso, ela é enviada para a casa de seu editor, no interior da França. E tudo começa muito bem para Sarah: os novos ares, o silêncio e a paisagem parece que vão trazer-lhe de novo as idéias. Isso até que aparece Julie, filha do editor. Com Julie vêm o barulho, a falta de educação e a inquietude. A inquietude é o mais importante. Julie representa, no estado mais agressivo que Sarah pode conceber, a juventude, a beleza e o desregramento dos sentidos. Para uma mulher madura, isso é inquietante: a cada noite, Julie aparece com um companheiro diferente. Sarah ressente-se disso, não sabemos exatamente por quê: ou porque é reprimida mesmo, ou porque seu tempo de ser desejada já passou –mas não o de desejar. O certo é que François Ozon foi muito feliz ao escalar duas atrizes de características opostas para os papéis centrais. Charlotte Rampling, que faz Sarah, não consegue deixar de ser distinta. Sabe se exprimir com economia de meios. Ludivine Sagnier, ao contrário, é aquilo que constumamos observar como “beleza vulgar”.
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O JARDINEIRO FIEL
Fernando Meirelles (2005)
A quebra de patentes de medicamentos pelo governo britânico é vista de maneira bem lúcida pelo diretor Fernando Meirelles. A primeira produção internacional do brasileiro tem Rachel Weisz e Ralph Fiennes no elenco para mostrar a história de um funcionário de saúde casado com uma ativista e a vida deles depois que ela morre no Quênia e ele passa a lutar pelas causas com as quais era cético para desvendar a morte da mulher.
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A VIAGEM DE CHIHIRO
Hayao Miyazaki (2001)
18
21 GRAMAS
Alejandro Gonzales Inarritu (2003)
“21 gramas” é o peso de um colibri, de um maço de cigarro e, segundo diz um dos personagens do filme, o peso que um corpo perde na hora da morte. O filme nos narra a história de três destinos que se cruzam. Paul é um professor de matemática cardíaco e espera a chamada telefônica que pode lhe salvar a vida. Christine (de Naomi Watts) é uma mulher que se tornou quieta dentro de uma estrutura familiar pequeno burguesa com duas filhas e um marido. E os carros que todos dirigiam não vai parar em um sinal, pelo contrário. O filme é totalmente construído nesse entremeio da colisão e de vidas que são suspensas e que se interceptam subtamente. E aqui, acolá o diretor vai consturando presente, passado e futuro dos persongens sem que haja cinto de segurança para evitar o choque os próprios espectadores. Sendo então radical, mas fugindo, completamente, da pecha experimentalista que circunda filmes como esse.
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O CÉU DE SUELY
Karim Aïnouz (2007)
Pela primeira vez vê-se em projeção nacional um filme que fala do Nordeste e que já não põe na tela os antigos Vaqueiros e a caatinga plenamente desabitada como principal marca identitária. Aqui o Nordeste não é mais o imaginário de Vidas Secas. No lugar dos vaqueiros há caras de motocicletas e ecos de uma sociedade de consumo. E no enredo, Hermila volta de São Paulo com um filho no colo para o interior do Ceará em que aguarda o reaparecimento do pai de seu filho. Ele, como de costume nas histórias em que o sexo masculino é sempre o que ocasiona vilania, não volta. Para voltar ao sonho dourado da capital paulista Hermila rifa o corpo em troca de uma possível viagem ao paraíso. E aqui a defesa para a miséria já não é mais a força política e a consciência de classe como no passado. Agora o sujeito cansado de lutar contra o stablishment lança mão de um certo jogo de cintura meio amoral e que beira o cinismo. São os tempos atuais.
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LEMON TREE
Eran Rikklis (2008)
O destino de uma palestina dona de uma pequena plantação de limões e do primeiro ministro israelenses se encontra nos limites que dividem suas casas. O terreno ocupado pelo pomar tornaria a segurança do local frágil, e Salma vai lutar contra a política de Estado pelo seu direito de preservar o quintal sem a invasão. O filme aborda os conflitos do Oriente Médio sob o olhar de quem vai ficar fora do muro construído por Israel em caso de decisão separatista. Contundente e atual, o filme é o mais bem sucedido no gênero a expor as duas partes com seus argumentos e revelando por outro viés, a fragilidade dos povos. A questão de gênero da mulher como indivíduo diminuído também é abordada com bastante delicadeza.
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A PROFESSORA DE PIANO
Michael Haneke (2001)
A parceria dos talentos de Isabelle Huppert e Claude Chabrol originou um típico filme da safra do diretor: um olhar cheio de tensão psicológica sobre as relações humanas. Um bom exemplo de thriller francês longe do estereótipo cabeçudo e ainda bastante contemporâneo. Aqui, as novas estruturas familiares – no caso, alterada pela chegada de uma suposta filha fora do casamento, ambienta sentimentos mais obscuros donde só caberia a normalidade de uma classe burguesa.
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AS INVASÕES BÁRBARAS
Denys Arcand (2003)
Continuação de O declínio do império americano (1986), As invasões bárbaras pode tranqüilamente ser visto de maneira distinta. O filme mostra os momentos finais da vida de Rémy, acadêmico que está com câncer, e continua levando sua vida de maneira surpreendentemente bem humorada – ou seria apenas um sintoma da maneira que um certo perfil de intelectuais lida com o revisionismo? A relação com o filho Sebastien, com a ex-mulher e a própria história de seus amigos mais chegados recebem como pano de fundo a dependência química, eutanásia, meia idade e como se reestruturaram as novas relações neste fim de século.
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A TEIA DE CHOCOLATE
Claude Chabrol (2000)
“É preciso salvar as aparências”, diz Mika aos diretores de sua fábrica de chocolate. Nessa altura, “A Teia de Chocolate” está começando, mas a frase é uma senha do que virá a seguir. Estamos na Suíça, terra fak por por excelência. E parece que a vida dos personagens desse filme segue bem o ritmo local, onde as coisas parecem todas se encaixar. Mika é casada com o famoso pianista André Polonski e tem como enteado o jovem Guillaume. Existe no filme uma outra família feliz, ou quase isso, composta por Jeanne Pollet, uma jovem pianista, e sua mãe Brigitte, diretora de um instituto de medicina legal. Numa terra de aparências, a fofoca corre solta e, claro, em dado momento uma amiga de Brigitte faz a revelação incômoda: quando Jeanne nasceu, houve uma momentânea troca de bebês no hospital. Tudo se desfez, mas agora, para Jeanne, resta a dúvida: seria ela filha de André? E seria Guillaume filho de Brigitte? Qual a natureza desse mistério, não ficaremos sabendo. Também não saberemos ao certo qual a natureza do mal que cerca as pessoas. O mal é tão inexplicável quanto a própria existência: ele existe simplesmente. Congratulações a Claude Chabrol, portanto, pois são poucos os momentos de cinema tão eternos como o final de A Teia de Chocolate, quando após a inevitável conclusão Isabelle Huppert, aos prantos, se joga num sofá enquanto um impassível Jacques Dutronc toca ao piano.
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O PÂNTANO
Lucrecia Martel (2003)
Lucrecia Martel é provavelmente o nome mais interessante da nova cena argentina. Seu segundo longa, “La Niña Santa, serve como tira-teima, não deixa dúvidas a respeito do seu talento. Mas logo na estréia em longa-metragem, com O Pântano, Martel exibia um cuidado e uma sagacidade incomuns. A narrativa acompanha duas trajetórias que se cruzam: de um lado está Mecha (Graciela Borges) a matriarca de uma família a beira do pleno desajuste e que vive num chácara rodeada por uma enorme penca de filhos e um marido entendiante e plenamente entediado. Em outro polo está Tali, a prima de Mecha que cria seus dois filhos na cidade e com boa dose de juízo na cabeça. A partir do encontro das duas na chácara de Mecha se desenrolam uma série de comentários sobre aparição da Virgem Imaculada, corpos que se tocam quase sem querer, orações sussurradas, um garoto com feições de anjo, uma piscina completamente suja e carinhos dotados de uma suposta inocência. Assim Martel nos conta a natureza da oposição entre fé e desejo. Aqui, um nasce do outro e não vive sem seu duplo. Um maniqueísmo que se alimenta de si mesmo.
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TERRA PROMETIDA
Amos Gitai (2005)
O que melhor reflete a nossa realidade? O que melhor define aquilo que somos e pelo que passamos? Toda obra de arte, independente da plataforma que lance mão é intrisicamente reflexo disso. Reflexo de nossas inquietações mais profundas. E como todo final de ano é época de listas e o final de 2009 é um ano especial, demarca o fim da primeira década do novo século, vamos fazer uma série delas. A primeira é voltada para cinema. Quais são os filmes que demarcam as inquietações desses primeiros dez anos? Quando saímos de 1999 o discurso de todos é que estávamos adentrando um período de superações. Que depois da virada iríamos passar por uma nova era. Ledo engado.
As nossas questões ainda são as mesmas, mas agora estão sob nova ótica. Embutidas em uma crosta repleta de individualismo e superficialidade. As bandeiras, agora, quase inexistentes são baseadas pela nossa própria superação e passamos do politicismo exacerbado para recair nas superações do estético.
E escolhemos 30 filmes que discutiram os principais anseios desse período. Leia, julgue e comente!
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