quinta-feira, 24 de novembro de 2011

OS 30 MELHORES FILMES DA DÉCADA (2000 A 2009)

O que melhor reflete a nossa rea­li­dade? O que melhor define aquilo que somos e pelo que pas­sa­mos? Toda obra de arte, inde­pen­dente da pla­ta­forma que lance mão é intri­si­ca­mente reflexo disso. Reflexo de nos­sas inqui­e­ta­ções mais pro­fun­das. E como todo final de ano é época de lis­tas e o final de 2009 é um ano espe­cial, demarca o fim da pri­meira década do novo século, vamos fazer uma série delas.
A pri­meira é vol­tada para cinema. Quais são os fil­mes que demar­cam as inqui­e­ta­ções des­ses pri­mei­ros dez anos? Quando saí­mos de 1999 o dis­curso de todos é que está­va­mos aden­trando um período de supe­ra­ções. Que depois da virada iría­mos pas­sar por uma nova era. Ledo engado.
As nos­sas ques­tões ainda são as mes­mas, mas agora estão sob nova ótica. Embutidas em uma crosta repleta de indi­vi­du­a­lismo e super­fi­ci­a­li­dade. As ban­dei­ras, agora, quase ine­xis­ten­tes são base­a­das pela nossa pró­pria supe­ra­ção e pas­sa­mos do poli­ti­cismo exa­cer­bado para recair nas supe­ra­ções do estético.
E esco­lhe­mos 30 fil­mes que dis­cu­ti­ram os prin­ci­pais anseios desse período. Leia, jul­gue e comente!


30
EDUKATORS
Hans Weingartner (2003)

29
BASTARDOS INGLÓRIOS

Quentin Tarantino (2009)
Quinze anos depois do sucesso ino­va­dor de Pulp Fiction no Festival de Cannes, o dire­tor Quentin Tarantino vol­tou ao bal­neá­rio fran­cês para lan­çar sua ver­são bem par­ti­cu­lar do exér­cito ame­ri­cano for­mado por judeus coman­dado por Aldo Raine (Brad Pitt), que cerca e escalpa sol­da­dos da SS, rees­cre­vendo a his­tó­ria do holo­causto da maneira catár­tica. O filme expurga um dos temas mais caros e ainda deli­ca­dos do cinema, sob a pers­pec­tiva de jus­tiça feita pelas víti­mas da maneira bru­tal cor­res­pon­dente ao geno­cí­dio pra­ti­cado pelos ale­mães. A obra prima do cari­nha da locadora.

28
NO PAIN, NO GAIN

Samuel Turcotte (2003)
Mike Zorillo é um fisi­cul­tu­rista em uma pequena cidade de Ohio. Um homem inco­mum, que com­bina um corpo super mus­cu­loso com um QI digno de um gênio. Em busca do sonho de mos­trar ao mundo seuas ideias revo­lu­ci­o­ná­rias sobre desen­vol­vi­mento de mús­cu­los per­fei­tos, Mike viaja para a mexa do fisi­cul­tu­rismo, Los Angeles, e per­cebe ue a única maneira de atin­gir seus obje­ti­vos é ven­cer a com­pe­ti­ção de maior pres­tí­gio dessa moda­li­dade, a Mr. West Coast. O maios obs­tá­culo no cami­nho do atleta está num bando de lou­cos por aca­de­mias de ginás­tica que tomam este­rói­des para aumen­tar a massa mus­cu­lar. Por causa de suas pes­qui­sas cien­tí­fi­cas, Mike passa a ser per­se­guido pla maior com­pa­nhia de nutri­ção, mas recebe ajuda de uma bela luta­dora de Kickboxing. Juntos eles des­co­brem o que falta em suas vidas e des­troem o cli­chê dos anos 90 de que quem tem mús­cu­los não pensa.

27
FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO

Michael Moore (2004)
A já memo­rá­vel cena do ex-presidente norte-americano George W. Bush apá­tico, numa escola pri­má­ria dos EUA, no momento em que soube do pri­meiro ata­que às tor­res gêmeas do World Trade Center, é uma das cenas que jus­ti­fi­cam este docu­men­tá­rio do cine­asta gonzo Michael Moore. O filme ousou cri­ti­car aber­ta­mente as fra­gi­li­da­des do governo repu­bli­cano quando ainda até a imprensa tinha reser­vas a res­peito do modelo de reta­li­a­ção às for­ças ira­qui­a­nas res­pon­sá­veis pelo ata­que que viti­mou milha­res de pes­soas, pri­o­ri­zando as rela­ções peri­go­sas entre George Bush pai e os car­téis de petró­leo da famí­lia de Osama Bin Ladin. Irônico, pan­fle­tá­rio e bem edi­tado, o filme ren­deu a Palma de Ouro de 2004, com um dis­curso infla­mado de Moore desan­cando os rumos da civi­li­za­ção mais influ­ente do Ocidente.

26
O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN

Ang Lee (2005)

25
BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS

Michel Gondry (2004)
O segundo tra­ba­lho do rotei­rista Charlie Kauffman com o dire­tor Michel Gondry (fize­ram antes “Natureza Quase Humana”) é apai­xo­nante, tem ótimo elenco e idéia extre­ma­mente ori­gi­nal, que ren­deu o Oscar e BAFTA de Melhor Roteiro e mais 33 prê­mios pelo mundo afora. Garota impul­siva (Kate Winslet) apaga lite­ral­mente o namo­rado (Jim Carrey) da memó­ria em clí­nica que faz tal cirur­gia. Ele resolve dar o troco, mas desiste no meio da “ope­ra­ção” e pre­cisa lutar den­tro do pró­prio cére­bro para man­ter suas lem­bran­ças. Kate e Carrey for­ma­ram um casal impro­vá­vel, mas demons­tra­ram quí­mica impres­si­o­nante em cena. Ela foi indi­cada ao Oscar de Atriz e o ator foi injus­ta­mente esque­cido pela pre­mi­a­ção da Academia. Uma pérola cine­ma­to­grá­fica do século XXI.

24
A TRILOGIA BOURNE

Doug Liman e Paul Greengrass (2002, 2004 e 2007)
Matt Damon corre, corre, corre, atira, pula, salta e man­tém no rosto a prin­ci­pal estima daque­les que sabem o que estão fazendo: a seri­e­dade e a cara impa­vida. A tri­lo­gia Bourne — como ficou conhe­cido os fil­mes A Identidade Bourne, A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne — que começa nas mãos de Doug Liman (no pri­meiro filme) e passa à dire­ção de Paul Greengrass em seguida. No pri­meiro, o cen­tro é a perda de memó­ria. Nos dois outros, aos pou­cos, desvia-se para a ques­tão do poder: quem manda? quem ordena? O que fazer? O que no fazer? E esta­mos, sem­pre, às vol­tas com uma CIA em que, sem ini­mi­gos reais a espi­o­nar, os agen­tes, che­fes de agen­tes, che­fes dos che­fes etc. comem uns aos outros. Estamos, ainda, num mundo de escu­tas, onde para­nóia e gol­pes bai­xos dão o tom, sem orde­na­ção hie­rár­quica (o crime vem muito do alto). Paranóia por para­nóia a ver­dade é que tudo isso existe de ver­dade e nos per­meia o coti­di­ano com câme­ras nos banhei­ros do trabalho.

23
BATMAN — O CAVALEIRO DAS TREVAS

Christopher Nolan (2008)
Batman Begins mar­cou o iní­cio da nova fran­quia do homem-morcego de forma posi­tiva, indo numa dire­ção com­ple­ta­mente oposta aos lon­gas ante­ri­o­res do per­so­na­gem, inse­rindo drama, tor­nando os per­so­na­gens pró­xi­mos da rea­li­dade e levando ao público o melhor ator a inter­pre­tar o herói: Christian Bale. O Cavaleiro das Trevas expan­diu as qua­li­da­des de seu ante­ces­sor, mes­clando drama poli­cial, con­fli­tos psi­co­ló­gi­cos (influên­cia de “Fogo con­tra Fogo”, de Michael Mann), ótimas sequên­cias de ação, exce­lente elenco e uma atu­a­ção anto­ló­gica do fale­cido Heath Ledger na pele do Coringa, fazendo o Coringa de Jack Nicholson, tão come­mo­rado na época de Batman, de Tim Burton, pare­cer brin­ca­deira de cri­ança. Ledger ven­ceu pra­ti­ca­mente todos os prê­mios, incluindo Oscar e Globo de Ouro. Elogiado pela crí­tica, levanta inú­me­ras ques­tões sobre segu­rança e pri­va­ci­dade, cri­tica com inte­li­gên­cia o governo ame­ri­cano e fez mega sucesso de bilhe­te­ria, ultra­pas­sando a marca de US$ 1 bilhão ao redor do mundo.

22
LAVOURA ARCAICA

Luís Fernando Carvalho (2001)
O filme de Luiz Fernando Carvalho vem de uma safra bra­si­leira de quando o exer­cí­cio do cinema auto­ral ainda não tinha entrado em orgia com o cine­mão sem pro­pó­sito – são con­tem­po­râ­neos a ele Abril Despedaçado (Walter Salles) e Amarelo Manga ( Claudio Assis). Adaptação de um romance de Raduan Nassar pouco conhe­cido antes de ser levado às telas, é uma pro­du­ção bra­si­leira dis­tante de fór­mu­las conhe­ci­das, denso, um tanto incô­modo e este­ti­ca­mente bem elaborado.

21
SWIMMING POOL

François Ozon (2003)
Sarah Morton é uma vete­rana, bem-sucedida e mal-humorada escri­tora inglesa de livros de mis­té­rio. À beira de uma crise cri­a­tiva e de um colapso ner­voso, ela é envi­ada para a casa de seu edi­tor, no inte­rior da França. E tudo começa muito bem para Sarah: os novos ares, o silên­cio e a pai­sa­gem parece que vão trazer-lhe de novo as idéias. Isso até que apa­rece Julie, filha do edi­tor. Com Julie vêm o baru­lho, a falta de edu­ca­ção e a inqui­e­tude. A inqui­e­tude é o mais impor­tante. Julie repre­senta, no estado mais agres­sivo que Sarah pode con­ce­ber, a juven­tude, a beleza e o des­re­gra­mento dos sen­ti­dos. Para uma mulher madura, isso é inqui­e­tante: a cada noite, Julie apa­rece com um com­pa­nheiro dife­rente. Sarah ressente-se disso, não sabe­mos exa­ta­mente por quê: ou por­que é repri­mida mesmo, ou por­que seu tempo de ser dese­jada já pas­sou –mas não o de dese­jar. O certo é que François Ozon foi muito feliz ao esca­lar duas atri­zes de carac­te­rís­ti­cas opos­tas para os papéis cen­trais. Charlotte Rampling, que faz Sarah, não con­se­gue dei­xar de ser dis­tinta. Sabe se expri­mir com eco­no­mia de meios. Ludivine Sagnier, ao con­trá­rio, é aquilo que cons­tu­ma­mos obser­var como “beleza vulgar”.

20
O JARDINEIRO FIEL

Fernando Meirelles (2005)
A que­bra de paten­tes de medi­ca­men­tos pelo governo bri­tâ­nico é vista de maneira bem lúcida pelo dire­tor Fernando Meirelles. A pri­meira pro­du­ção inter­na­ci­o­nal do bra­si­leiro tem Rachel Weisz e Ralph Fiennes no elenco para mos­trar a his­tó­ria de um fun­ci­o­ná­rio de saúde casado com uma ati­vista e a vida deles depois que ela morre no Quênia e ele passa a lutar pelas cau­sas com as quais era cético para des­ven­dar a morte da mulher.

19
A VIAGEM DE CHIHIRO

Hayao Miyazaki (2001)

18
21 GRAMAS

Alejandro Gonzales Inarritu (2003)
“21 gra­mas” é o peso de um coli­bri, de um maço de cigarro e, segundo diz um dos per­so­na­gens do filme, o peso que um corpo perde na hora da morte. O filme nos narra a his­tó­ria de três des­ti­nos que se cru­zam. Paul é um pro­fes­sor de mate­má­tica car­díaco e espera a cha­mada telefô­nica que pode lhe sal­var a vida. Christine (de Naomi Watts) é uma mulher que se tor­nou qui­eta den­tro de uma estru­tura fami­liar pequeno bur­guesa com duas filhas e um marido. E os car­ros que todos diri­giam não vai parar em um sinal, pelo con­trá­rio. O filme é total­mente cons­truído nesse entre­meio da coli­são e de vidas que são sus­pen­sas e que se inter­cep­tam sub­ta­mente. E aqui, acolá o dire­tor vai cons­tu­rando pre­sente, pas­sado e futuro dos per­son­gens sem que haja cinto de segu­rança para evi­tar o cho­que os pró­prios espec­ta­do­res. Sendo então radi­cal, mas fugindo, com­ple­ta­mente, da pecha expe­ri­men­ta­lista que cir­cunda fil­mes como esse.

17
O CÉU DE SUELY

Karim Aïnouz (2007)
Pela pri­meira vez vê-se em pro­je­ção naci­o­nal um filme que fala do Nordeste e que já não põe na tela os anti­gos Vaqueiros e a caa­tinga ple­na­mente desa­bi­tada como prin­ci­pal marca iden­ti­tá­ria. Aqui o Nordeste não é mais o ima­gi­ná­rio de Vidas Secas. No lugar dos vaquei­ros há caras de moto­ci­cle­tas e ecos de uma soci­e­dade de con­sumo. E no enredo, Hermila volta de São Paulo com um filho no colo para o inte­rior do Ceará em que aguarda o rea­pa­re­ci­mento do pai de seu filho. Ele, como de cos­tume nas his­tó­rias em que o sexo mas­cu­lino é sem­pre o que oca­si­ona vila­nia, não volta. Para vol­tar ao sonho dou­rado da capi­tal pau­lista Hermila rifa o corpo em troca de uma pos­sí­vel via­gem ao paraíso. E aqui a defesa para a misé­ria já não é mais a força polí­tica e a cons­ci­ên­cia de classe como no pas­sado. Agora o sujeito can­sado de lutar con­tra o sta­blish­ment lança mão de um certo jogo de cin­tura meio amo­ral e que beira o cinismo. São os tem­pos atuais.

16
LEMON TREE

Eran Rikklis (2008)
O des­tino de uma pales­tina dona de uma pequena plan­ta­ção de limões e do pri­meiro minis­tro isra­e­len­ses se encon­tra nos limi­tes que divi­dem suas casas. O ter­reno ocu­pado pelo pomar tor­na­ria a segu­rança do local frá­gil, e Salma vai lutar con­tra a polí­tica de Estado pelo seu direito de pre­ser­var o quin­tal sem a inva­são. O filme aborda os con­fli­tos do Oriente Médio sob o olhar de quem vai ficar fora do muro cons­truído por Israel em caso de deci­são sepa­ra­tista. Contundente e atual, o filme é o mais bem suce­dido no gênero a expor as duas par­tes com seus argu­men­tos e reve­lando por outro viés, a fra­gi­li­dade dos povos. A ques­tão de gênero da mulher como indi­ví­duo dimi­nuído tam­bém é abor­dada com bas­tante delicadeza.

15
A PROFESSORA DE PIANO

Michael Haneke (2001)
A par­ce­ria dos talen­tos de Isabelle Huppert e Claude Chabrol ori­gi­nou um típico filme da safra do dire­tor: um olhar cheio de ten­são psi­co­ló­gica sobre as rela­ções huma­nas. Um bom exem­plo de thril­ler fran­cês longe do este­reó­tipo cabe­çudo e ainda bas­tante con­tem­po­râ­neo. Aqui, as novas estru­tu­ras fami­li­a­res – no caso, alte­rada pela che­gada de uma suposta filha fora do casa­mento, ambi­enta sen­ti­men­tos mais obs­cu­ros donde só cabe­ria a nor­ma­li­dade de uma classe burguesa.

14
AS INVASÕES BÁRBARAS

Denys Arcand (2003)
Continuação de O declí­nio do impé­rio ame­ri­cano (1986), As inva­sões bár­ba­ras pode tranqüi­la­mente ser visto de maneira dis­tinta. O filme mos­tra os momen­tos finais da vida de Rémy, aca­dê­mico que está com cân­cer, e con­ti­nua levando sua vida de maneira sur­pre­en­den­te­mente bem humo­rada – ou seria ape­nas um sin­toma da maneira que um certo per­fil de inte­lec­tu­ais lida com o revi­si­o­nismo? A rela­ção com o filho Sebastien, com a ex-mulher e a pró­pria his­tó­ria de seus ami­gos mais che­ga­dos rece­bem como pano de fundo a depen­dên­cia quí­mica, euta­ná­sia, meia idade e como se rees­tru­tu­ra­ram as novas rela­ções neste fim de século.

13
A TEIA DE CHOCOLATE

Claude Chabrol (2000)
“É pre­ciso sal­var as apa­rên­cias”, diz Mika aos dire­to­res de sua fábrica de cho­co­late. Nessa altura, “A Teia de Chocolate” está come­çando, mas a frase é uma senha do que virá a seguir. Estamos na Suíça, terra fak por por exce­lên­cia. E parece que a vida dos per­so­na­gens desse filme segue bem o ritmo local, onde as coi­sas pare­cem todas se encai­xar. Mika é casada com o famoso pia­nista André Polonski e tem como ente­ado o jovem Guillaume. Existe no filme uma outra famí­lia feliz, ou quase isso, com­posta por Jeanne Pollet, uma jovem pia­nista, e sua mãe Brigitte, dire­tora de um ins­ti­tuto de medi­cina legal. Numa terra de apa­rên­cias, a fofoca corre solta e, claro, em dado momento uma amiga de Brigitte faz a reve­la­ção incô­moda: quando Jeanne nas­ceu, houve uma momen­tâ­nea troca de bebês no hos­pi­tal. Tudo se des­fez, mas agora, para Jeanne, resta a dúvida: seria ela filha de André? E seria Guillaume filho de Brigitte? Qual a natu­reza desse mis­té­rio, não fica­re­mos sabendo. Também não sabe­re­mos ao certo qual a natu­reza do mal que cerca as pes­soas. O mal é tão inex­pli­cá­vel quanto a pró­pria exis­tên­cia: ele existe sim­ples­mente. Congratulações a Claude Chabrol, por­tanto, pois são pou­cos os momen­tos de cinema tão eter­nos como o final de A Teia de Chocolate, quando após a ine­vi­tá­vel con­clu­são Isabelle Huppert, aos pran­tos, se joga num sofá enquanto um impas­sí­vel Jacques Dutronc toca ao piano.

12
O PÂNTANO

Lucrecia Martel (2003)
Lucrecia Martel é pro­va­vel­mente o nome mais inte­res­sante da nova cena argen­tina. Seu segundo longa, “La Niña Santa, serve como tira-teima, não deixa dúvi­das a res­peito do seu talento. Mas logo na estréia em longa-metragem, com O Pântano, Martel exi­bia um cui­dado e uma saga­ci­dade inco­muns. A nar­ra­tiva acom­pa­nha duas tra­je­tó­rias que se cru­zam: de um lado está Mecha (Graciela Borges) a matri­arca de uma famí­lia a beira do pleno desa­juste e que vive num chá­cara rode­ada por uma enorme penca de filhos e um marido enten­di­ante e ple­na­mente ente­di­ado. Em outro polo está Tali, a prima de Mecha que cria seus dois filhos na cidade e com boa dose de juízo na cabeça. A par­tir do encon­tro das duas na chá­cara de Mecha se desen­ro­lam uma série de comen­tá­rios sobre apa­ri­ção da Virgem Imaculada, cor­pos que se tocam quase sem que­rer, ora­ções sus­sur­ra­das, um garoto com fei­ções de anjo, uma pis­cina com­ple­ta­mente suja e cari­nhos dota­dos de uma suposta ino­cên­cia. Assim Martel nos conta a natu­reza da opo­si­ção entre fé e desejo. Aqui, um nasce do outro e não vive sem seu duplo. Um mani­queísmo que se ali­menta de si mesmo.

11
TERRA PROMETIDA

Amos Gitai (2005)
O que melhor reflete a nossa rea­li­dade? O que melhor define aquilo que somos e pelo que pas­sa­mos? Toda obra de arte, inde­pen­dente da pla­ta­forma que lance mão é intri­si­ca­mente reflexo disso. Reflexo de nos­sas inqui­e­ta­ções mais pro­fun­das. E como todo final de ano é época de lis­tas e o final de 2009 é um ano espe­cial, demarca o fim da pri­meira década do novo século, vamos fazer uma série delas. A pri­meira é vol­tada para cinema. Quais são os fil­mes que demar­cam as inqui­e­ta­ções des­ses pri­mei­ros dez anos? Quando saí­mos de 1999 o dis­curso de todos é que está­va­mos aden­trando um período de supe­ra­ções. Que depois da virada iría­mos pas­sar por uma nova era. Ledo engado.
As nos­sas ques­tões ainda são as mes­mas, mas agora estão sob nova ótica. Embutidas em uma crosta repleta de indi­vi­du­a­lismo e super­fi­ci­a­li­dade. As ban­dei­ras, agora, quase ine­xis­ten­tes são base­a­das pela nossa pró­pria supe­ra­ção e pas­sa­mos do poli­ti­cismo exa­cer­bado para recair nas supe­ra­ções do estético.
E esco­lhe­mos 30 fil­mes que dis­cu­ti­ram os prin­ci­pais anseios desse período. Leia, jul­gue e comente!

Nenhum comentário:

Postar um comentário